Em 2007, era praticamente metade disso. Maioria passa parte do dia pedindo esmolas ou trabalhando, o que a pesquisa classifica de ‘trajetórias de risco’.
A população de crianças e adolescentes em situação de rua na maior cidade brasileira dobrou nos últimos 15 anos.
Dois irmãos, de 13 e 9 anos, moraram cinco semanas nas ruas até irem para um abrigo. Nesta quinta-feira (28), foram visitar a mãe, que está presa. Na volta, escaparam da educadora que os acompanhava, mas se arrependeram da fuga e pediram para voltar a ter onde dormir e conseguiram.
Repórter: Como é ficar na rua?
Criança: É ruim.
Repórter: Por que?
Criança: Porque os outros podem te sequestrar, levar para algum lugar ruim.
Um novo censo feito em São Paulo mostra que há 3.759 menores nas ruas da cidade. Em 2007, era praticamente metade disso. A Prefeitura diz que mudou a metodologia da contagem, mas reconhece o agravamento da situação.
“A pandemia, a crise econômica, os cortes do governo federal nos programas sociais. Enfim, há uma situação em que vários fatores vão corroborando para esse aumento do aumento do crianças que a gente percebe. Tudo isso junto, sem dúvida nenhuma, contribui para esse aumento significativo, que precisa ser compreendido, diagnosticado e enfrentado como prioridade, que é o que a gente está fazendo”, afirma o secretário de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, Carlos Bezerra Júnior.
A grande maioria das crianças e adolescentes passa parte do dia pedindo esmolas ou trabalhando; é o que o censo classifica de “trajetórias de risco”. Quase 11% dormem nas ruas e 16% passam a noite em abrigos.
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Depois do resultado do censo, as assistentes sociais mudaram o tipo de abordagem. Usando um tapete e alguns brinquedos, a educadora consegue puxar conversa. Núbia diz que, em menos de um mês, já conseguiu levar 10 crianças que moravam embaixo do vão livre do Masp para um abrigo.
“O tempo que você está com ele é um tempo de qualidade para ele, é uma construção de vínculo. E nós trabalhamos em cima da construção de vínculo. Eles vão entender que essa não é a única opção que eles têm, ficar na rua, e que existe um serviço especializado que está ali para auxiliar eles”, conta a orientadora Núbia Lopes Castro.
Além de todos os perigos que a rua oferece, como o acesso a drogas, por exemplo, existe outro menos visível, mas com consequências graves a médio e a longo prazos. Especialistas em saúde dizem que essas crianças são extremamente vulneráveis à desnutrição, o que reduz a expectativa de vida e compromete a saúde física e mental na idade adulta.
“Essas crianças têm um alto risco para, no futuro, ter alterações de doenças mentais, desde leves níveis de ansiedade até altos níveis de depressão. O Estatuto da Criança e do Adolescente diz que o Estado tem que prover essas crianças de uma boa nutrição, de vacinação, de acolhimento para o seu crescimento e desenvolvimento. E elas não estão recebendo”, afirma o presidente do Departamento de Pediatria da SBP, Tadeu Fernandes.
O Ministério da Cidadania declarou que ampliou o alcance das políticas socioassistenciais e que, só no capital paulista, há mais de 650 mil famílias beneficiadas por programas sociais.